"" Como Estudar a Bíblia: METODOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

METODOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

O Evento Preparatório Decisivo para o Surgimento do Cristianismo.


Não vamos fazer aqui uma Teologia do Novo Testamento. Serão mostrados alguns exemplos, como o Novo Testamento recebeu das religiões ao redor certas categorias de interpretação e as transformou à luz da realidade de Jesus, o Cristo.

Os dois momentos: recepção e transformação. As categorias desenvolvidas nas várias religiões, no Antigo Testamento, e no Período Intertestamentário, foram utilizadas para interpretar o evento da vinda de Jesus, mas os significados dessas categorias foram transformados quando aplicados a ele.


O Messias (no que concerne a Cristologia era antigo símbolo profético).


Esse símbolo foi aplicado a Jesus pelos primeiros discípulos, provavelmente desde os primeiros encontros com ele. Trata-se de enorme paradoxo. Por um lado, era adequado porque Jesus trazia o novo ser, mas por outro lado, não era, porque muitas conotações do termo “Messias” iam além do surgimento histórico de Jesus.

Segundo o relato que temos, o próprio Jesus sentia a duplicidade dessa interpretação, portanto, proibiu os discípulos de usarem o termo. Pode ser que essa proibição tenha aparecido apenas nos documentos posteriores, mas, seja como for, reflete a ambigüidade existente.


Filho do Homem.


Por um lado, talvez o próprio Jesus o tenha usado, porque indica o poder divino presente nele para fazer vir a nova era. Por outro lado, o conceito não era adequado, porque o Filho do Homem deveria vir em poder e grande glória.


Filho de Davi.


Enquanto realizador das antigas profecias, adequava-se a Jesus. Mas Davi era rei e o conceito de “Filho de Davi” podia indicar um rei ou líder político. Jesus resistiu a esse mal-entendido quando disse que o próprio Davi considera o Messias seu senhor.


Filho de Deus.


Enquanto expressão do relacionamento de Jesus com Deus, era um termo adequado. Mas não completamente, pois era também um conceito pagão muito conhecido. Os deuses pagãos procriavam muitos filhos na terra. Por causa disso, dizia-se que Jesus era o “unigênito Filho de Deus”, acrescentando-se a expressão “eterno”.

Os judeus não gostavam desse termo por causa das conotações pagãs que carregava. Podiam entender Israel como “Filho de Deus”, mas não podiam aplicá-lo a um indivíduo.


Kyrios.


Enquanto usado segundo o Antigo Testamento, para significar poder divino, não havia problema. Mas era duvidoso por ser muito utilizado pelos cultos de mistério, aí todos os deuses são ku,rioi, senhores. Além disso Jesus sempre foi descrito como um ser finito e concreto, por outro lado os deuses das religiões de mistério eram objetos de união mística, como Jesus. Para Paulo especialmente, qualquer pessoa pode estar em Cristo (evn cristo,), isto é, no poder, na santidade e no temor de seu ser.


Logos.


Era adequado enquanto expressão da auto-manifestação de Deus em todas as formas da realidade. Tanto na filosofia grega como no simbolismo judaico é o princípio cósmico da criação. Mas ao ser entendido como princípio universal não podia ser aplicado a Jesus que era uma realidade concreta (e particular). Jesus é uma vida pessoal concreta descrita por esse termo.

Essa ambigüidade aparece no maior paradoxo do cristianismo – o Logos se fez carne. Temos aí um exemplo perfeito de como o sentido do termo, com todas as conotações trazidas do passado, pode ser transformado para expressar a mensagem cristã. A idéia de que o Logos se fez carne jamais poderia ter vindo do pensamento grego. Portanto, os pais da Igreja insistiram que, enquanto os filósofos gregos possuíam a idéia do Logo universal, o que veio a ser peculiarmente cristão foi que o Logos se fez carne numa vida pessoal.


Concluindo.


A grandeza do Novo Testamento consiste em ter sido capaz de usar palavras, conceitos e símbolos surgidos na história das religiões, preservando ao mesmo tempo a pessoa de Jesus interpretada por essas categorias.

O poder espiritual do Novo Testamento era tamanho que pôde muito bem incorporar esses conceitos no cristianismo, com todas as conotações judaicas e pagãs trazidas em seu bojo, sem perder a realidade básica, isto é, o evento Jesus, o Cristo, que esses conceitos agora interpretavam.


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